A mordaz aurora corpuscular no seio da discussão elevou ao seu auge o tom dos uivos do locutor que por sua vez se ausentou assim que a sua presença deixou de se sentir... A morte fez o seu trabalho, já nada nem ninguém o poderá ajudar. As palavras estão escritas e os actos executados. Resta aguardar agora pela hora da redenção.

Já passava muito para lá da hora do almoço

Já passava muito para lá da hora do almoço quando acordei nu na cama daquele quarto. Ela era linda. Alva. De um branco que nunca tinha visto. Olhos claros. Loira. E estava ao meu lado, ali deitada a olhar para mim a sorrir. Confesso que estava confuso e a perguntar-me como terá acontecido. Aconteceu. Levanta-se sorrindo e eu olho para o seu escultural e feminino corpo despido só para mim. Começa por se vestir. Tem todo o tempo do mundo, por isso a morosidade com que o faz, que se traduz da forma mais sensual que alguma vez pude observar. Saiu do quarto e eu fiquei a fitá-la enquanto se afastava. Não me disse uma única palavra, eu também não a pedi. Já vestido sigo até à cozinha onde estavam, para além de alguns residentes da casa, algumas das pessoas da festa que passaram ali a noite. Todos me olham e me dão os bons dias. Sorrio e retribuo. Ela olha para mim e sorri. Fico por ali alguns minutos, como qualquer coisa, troco umas palavras, mas não com ela. Só trocamos olhares. Arrumo as minhas coisas e preparo-me para ir para casa, despeço-me de todos, ela fica a olhar para mim. Sigo para a porta, sinto-me perseguido e viro-me para trás. Ela estava ali, parada de frente para mim, sozinhos, a olhar-me como se eu lhe tivesse prometido algo que não lhe tinha dado. Durante uns segundos ficámo-nos de olhos nos olhos. Ela ergueu a sua delicada mão ao meu rosto, acariciando-o e beijou-me suavemente nos lábios. Saiu. Não me disse nada e eu também não lho pedi. Tornei a virar-me e sai.

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