A mordaz aurora corpuscular no seio da discussão elevou ao seu auge o tom dos uivos do locutor que por sua vez se ausentou assim que a sua presença deixou de se sentir... A morte fez o seu trabalho, já nada nem ninguém o poderá ajudar. As palavras estão escritas e os actos executados. Resta aguardar agora pela hora da redenção.

Perdoa-me

‘Perdoa-me’, foi a última coisa que lhe saiu da boca. Um grito de desespero, um pedido ignorado por completo. Já as mãos estavam cansadas e a escorrer em sangue quando terminei de o sovar. Tinha a cara toda desfeita. Não aguentou a fúria descontrolada destes punhos sedentos de vingança, de justiça. Sentei-me junto ao corpo deitado no chão, a tentar recuperar o fôlego. Procurei por algo limpo para limpar a cara, o suor, o sangue, tudo. Tinha as mãos doridas, algum dedo partido, ainda estava quente mas sabia que era a verdade. Levantei-me a custo do chão, onde se formara uma poça com o passar do tempo. Dou os últimos suspiros debruçado, contemplando aquele corpo ali estendido ainda à espera de um movimento que justificasse outra investida. Mas não, nada ali mexia. Mas respirava. Olho em volta e procuro vida em redor. Não se vê ninguém. Atiro-lhe o casaco todo amarrotado para cima, abandono o local e deixo para trás o passado.

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