A mordaz aurora corpuscular no seio da discussão elevou ao seu auge o tom dos uivos do locutor que por sua vez se ausentou assim que a sua presença deixou de se sentir... A morte fez o seu trabalho, já nada nem ninguém o poderá ajudar. As palavras estão escritas e os actos executados. Resta aguardar agora pela hora da redenção.

Silêncio

Dá umas passas no cigarro. Faz frio lá fora. Olha para o relógio que teima em não avançar. Levanta a gola do casaco e esfrega as mãos no gesto vão de as aquecer enquanto aguenta o cigarro no canto direito da boca. Olha para o lado esquerdo, demora-se, olha para o direito e desiste. Está frio, muito frio. Ouve um carro a virar a esquina. Está a aproximar-se. Pára em frente dele. Atira o cigarro meio fumado para o chão. Apressa-se a descer os três degraus e abrir a porta traseira do carro. A rapariga demora a sair. Ela é alta, cabelo escuro, vestido de alças vermelho de ceda, liso até aos joelhos. Ele não se permite admirar mais. Fecha a porta do carro a correr. Sobe os três degraus de um salto e abre a porta escura pesada de madeira castanha maciça. A rapariga não demora a entrar. O carro parte. Ele fecha a porta detrás dela. Volta-se de costas e olha para o relógio que teima em não avançar. Faz frio lá fora. Acende outro cigarro.

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